O evolucionismo
pode ajudar a esclarecer porque o 7 x 1 não humilhou os jogadores brasileiros, nem
a comissão técnica. Humilhou o próprio futebol brasileiro.
Segundo o Prêmio Nobel Daniel Khneman, o processo
evolutivo dotou o cérebro humano com mecanismos de resposta imediata e mediata
que chamou de Sistema 1 e Sistema 2. O primeiro trabalha com intuições
e o outro com a razão. Para ser rápido, o Sistema
1 tira conclusões associando as memórias mais acessíveis ─ que são as mais recentes,
espetaculares ou traumáticas.
Neste
momento doloroso, nosso Sistema 1 só
consegue resgatar imagens ruins do Felipão e dos jogadores e as conclusões sobre
eles são as piores possíveis. Mas vamos deixar de preguiça e colocar o Sistema 2 para trabalhar:
A espetacular
seleção de 1982 foi legítima representante do que havia de melhor no futebol
brasileiro. Vinte dos vinte e dois convocados jogavam no Brasil.
A seleção campeã
de 2002 ainda representava nosso futebol, pois mais da metade (12/23) do elenco
atuava no país e a maioria dos outros saiu daqui amadurecida, campeões da Copa Libertadores da América (Roque
Junior e Junior), do Campeonato Brasileiro (Rivaldo e Roberto Carlos), etc.
Ao contrário,
os jogadores da atual seleção não representam nosso futebol. À exceção de
Neymar, saíram prematuramente do país e foram formados no futebol alemão, inglês,
italiano, francês, espanhol, ucraniano, etc. O verdadeiro futebol brasileiro é o
que se vê no Brasileirão: muita correria e pouca técnica.
A despeito da
precariedade de nosso futebol, conseguiu-se amealhar atletas espalhados pelo
mundo afora e montar uma seleção com qualidade suficiente para ganhar a Copa
das Confederações e ser semifinalista da Copa do Mundo. Um grande feito. Os jogadores e a comissão técnica estão de
parabéns.
Os verdadeiros
responsáveis pelo vexaminoso 7 x 1 são os administradores brasileiros do esporte
─ CBF, governo, clubes e empresários ─ que permitiram que a situação chegasse onde
chegou: fuga precoce de talentos, clubes falidos, torcidas organizadas violentas,
preços exorbitantes desproporcionais à qualidade dos espetáculos, falta de
intercâmbio de técnicos e jogadores com os grandes centros futebolísticos, estádios
vazios, etc.
Para sermos
sinceros, o Brasil não merecia ganhar essa Copa, nem a Argentina, cujo futebol
consegue ser ainda pior do que o nosso. A Alemanha sim.
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